A vida de um desenvolvedor indie

A montanha-russa de glórias e frustações

Postado por Ricardo Borelli em 19/03/2016

Escovador de bits de longa data em qualquer plataforma e desenvolvedor independente no mundo iOS desde 2010, (@rabc) já passou por todas as etapas nesse universo indie e sempre quis falar um pouco sobre como é.

Fama. Fortuna. Glória. Construa e eles virão. Quem nunca pensou em tudo isso?

Nunca foi tão fácil distribuir software até alguém ter a sacada de criar o conceito de App Store, facilitando todo o processo: distribuição, marketing, cobrança, comunicação, atualização. Por isso mesmo que o sonho de passar suas horas fazendo o código de um produto completamente imaginado por você passou a ser realidade, afinal agora segunda parte mais difícil era construir (a primeira é ter a idéia).

Mas até onde esse sonho ainda é realidade? Comecei no mundo iOS fazendo aplicativos por conta própria e esse artigo vai servir para mostrar minha jornada e tudo o que vi e vivi. Não espere links, gráficos e códigos, todas as observações são empíricas a partir dessa minha experiência.

Good ol’ days

É muito fácil mergulhar em uma plataforma nova quando se trabalha sozinho.

As deadlines são suas, então podem ser movidas.

Não existe uma cadeia de comando com superiores para quem você precisa responder e que repetem sempre show me the money!.

É até divertido explorar brinquedos novos e contornar os bugs!

Não havia nada, então tudo poderia ser explorado. Comecei com um aplicativo simples de Feriados que alcançou o Top #1 da App Store durante três anos seguidos. Fiz um dos primeiros aplicativos para mostrar os ônibus de São Paulo (isso antes da Prefeitura liberar a API oficial!).

O “construa e eles virão” era, de fato, uma realidade e o simples ato de estar na loja já poderia começar a trazer usuários, bastava apenas convencê-los de que a digna de ocupar precioso espaço no celular e de ser aberta de vez em quando.

Mas a vida não se restringe apenas ao mundo mobile.

Jack of all trades

Ser desenvolvedor independente é trabalhar em mais de uma frente ao mesmo tempo.

Um aplicativo não é uma ilha isolada, ela precisa de um suporte externo seja para sincronia de dados ou para a disponibilização das informações dinâmicas. Isso significa que você tem que cudar do seu back-end também.

Quem me acompanha sabe que sou contra BaaS [Backend-as-a-Service] (leia-se: Parse), pois não acredito que seja uma solução sustentável no longo prazo. Quem é o dono das informações? Se eles decidirem aumentar o preço, para onde você vai? Te vendem a solução como sendo um cercadinho de ouro, mas não falam do lobo que pode estar lá dentro.

Também sou desenvolvedor server-side. Foi onde comecei a programar e de onde, de um jeito ou de outro, sempre estive com um pé além do mobile. O que sempre vejo são os desenvolvedores independente falando que acham muito difícil fazer back-end, que querem focar no mobile para aproveitar o tempo livre que usam para desenvolver, que é caro e trabalhoso hospedar por conta própria.

Até concordo com alguns pontos, mas nunca tivemos tantas ferramentas para facilitar e tanta concorrência de lugares para hospedar. Por três euros você consegue um servidor ARM simples! Com o Zewo, como no próximo artigo do Thiago, você pode desenvolver todo esse back-end direto em Swift, já usando uma linguagem que também serve para o mobile. A curva de aprendizagem para administrar e configurar o servidor não é muito diferente de quando se usa algum serviço pronto.

O que você precisa se preocupar é com o futuro do seu modelo de negócio.

Os grandes chegam no parquinho

Chega uma hora que a parte da sociedade com bolsos fundos e cheios de dinheiro resolvem aderir também a esse mundo maravilhoso da App Store. Empresas com impacto maior e com poder maior para fazer um marketing além da App Store.

É possível que você escolha fazer um aplicativo que do dia para noite se torna irrelevante pelo simples fato de que aquela evil corporation resolve lançar uma versão própria. A culpa não é sua. E também não é deles.

Ser desenvolvedor indie é se reinventar a todo instante. É saber aproveitar o momento, usando a sua maior vantagem: independência. Em cada nova atualização do iOS é possível que você tenha uma dúzia de novas idéias (os widgets quando foram lançados no iOS 8, por exemplo) e cada novo dispositivo (estou olhando para você, Apple Watch) abre-se um mundo inteiro de novas oportunidades.

E isso também te traz oportunidades novas de negócio.

Fazendo dinheiro

Aplicativos de Podcast são um ótimo exemplo de que nem tudo pode estar perdido. Quando a Apple lançou o Podcasts.app que já vinha instalado, muitos se apressaram a decretar a morte dos vários aplicativos de Podcast que haviam até então.

Todos ainda estão no ar e existem novos que foram lançados também ¯\_(ツ)_/¯

Um caso interessante para ser observado é o do Overcast, criado pelo (~controverso e polêmico~) Marco Arment, um desenvolvedor independente de longa data. Muitos duvidaram de sua idéia de entrar nesse universo de aplicativos de Podcast, mas ele criou o Overcast e está fazendo dele um laboratório de modelo de negócio.

O Overcast começou com in-app purchase, evoluiu para um aplicativo completamente grátis (liberando as funções antes exclusivas do IAP) com esquema de patronage, em que você poderia contribuir com um valor mensal, e hoje ainda tem o patronage mas com funções exclusivas para quem contribui. Até onde isso vai dar certo? Ninguém sabe. Mas ele está tentando.

Ser independente é poder tentar novas fórmulas e correr o risco de dar certo. A rapidez com que você pode ter a idéia e botar ela em prática é o seu melhor trunfo, seja a idéia do aplicativo ou do modelo de negócio.

A jornada vale a pena?

Sim, vale. Mesmo que você não ganhe nada. Mesmo que seu aplicativo atraia poucos usuários. Mesmo que você erre o modelo de negócio.

Em poucas vezes durante a vida você terá oportunidades de empurrar a plataforma até o limite, explorando as novidades e inventando algo que pode ser útil. E, quem sabe, se o aplicativo não der certo mas você pode chamar a atenção o suficiente e abrir novas oportunidades de negócios.

A jornada pertence a você. Invente-se e reinvente-se, afinal o seu caminho só pode ser criado por você mesmo.